quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

As características da Moderação

(Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso)

Salaam walaykum, irmãs!
Dando início aos posts sobre a moderação, hoje falaremos sobre as características da moderação.
As características da moderação foram estabelecidas pelos textos islâmicos e manifestadas pelo Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), seus seguidores e os Salaf Salihin (predecessores piedosos). O Alcorão afirma que a moderação é a característica da lei islâmica (Shari’at), descrita como cheia de tolerância e sem qualquer dificuldade. Allah, Exaltado seja, diz no Alcorão:

“Ele os escolheu [para que sigam Sua religião] e não os prescreveu nada que não podeis cumprir”
[Corão, 22:78]

Também disse em outro versículo:
Allah não quer impor-vos nenhuma carga.
[Corão, 5:6]

Essas evidências, porém, irmãs, não significam que devemos abrir mão de algumas obrigações e deixar de cumpri-las. A moderação nada tem a ver com a indiferença no cumprimento do que nos foi prescrito por Allah, como o uso do hijaab, a oração, o jejum, ect.
Não se pode pensar, por exemplo, que porque moramos em um país quente podemos tirar o lenço, pois Deus não quer impor grande carga aos fies. Isso não é moderação, isso é indiferença ao que foi prescrito por Deus.
A moderação, por sua vez, tem seu sentido vinculado às seguintes características:
1.    É uma legislação justa, porque afastarmo-nos do caminho implica adotar uma posição extremista de fanatismo* ou de extremismo**.

* Fanatismo ou ifrat: denominação usada para descrever a pessoa que deixa a moderação, acrescentando inovações na religião, defendendo-a com zelo ou paixão excessiva.
** Indiferença ou tafrit: denominação utilizada para descrever uma pessoa que abandona a moderação, não cumprindo com as obrigações estipuladas pelo Islam.

2.    A moderação coincide com a lei islâmica e com a mente sã. Os códigos legais islâmicos sempre convidam a ter moderação, seja através de seus preceitos e conceitos básicos, ou através da opinião dos estudiosos. É impossível para humanidade sobreviver sem moderação, sendo um fato que os extremos são prejudiciais para os interesses de todos, uma vez que deve haver um meio termo que as pessoas aceitem e concordem.

3.    A moderação não é baseada em meros desejos ou caprichos, mas em conhecimentos estabelecidos, os quais devem ser textos do Corão* ou da Sunnah** do profeta (que a paz e bênção de Deus estejam sobre ele), ou dos ditos de algum companheiro do profeta (que a paz e bênção de Deus estejam sobre ele), ou na opinião de um sábio reconhecido, sobre questões que não sejam definidas em um texto legal definitivo. Assim, uma das características da moderação é que deve estar baseada em um conhecimento estabelecido.

* É importante, irmãs, que quando falamos em Corão há algum tão importante quanto o texto que é o CONtexto. Não podemos isolar as ordens de Deus, sem considerar o contexto no qual elas foram expressas, como é o caso da hijaad, por exemplo. Existem condições para fazê-la. Poratnto, não basta a clareza do texto, é importante que se conheceça também a essência do objetivo.
** Da mesma forma, precisamos ter cuidado quanto à autenticidade das Sunnah’s e dos Hadeeth’s, principalmente daqueles que circulam pela a internet.

4.    A moderação considera as habilidades e capacidades humanas. Dessa forma, uma pessoa moderada não se sobrecarrega, tampouco sobrecarrega os demais, tampouco tem opiniões extremas. As pessoas que utilizam princípios inviáveis se afastam da realidade, porque a moderação tem uma influência direta na vida das pessoas.

5.    Considerar o tempo e o espaço, porque os tempos mudam e as pessoas buscam a renovação constante, por isso, pregar a moderação exige a consideração das diferenças de tempo e de lugar e condições das pessoas. É por isso que todos os sábios, desde o início dos tempos afirmam que os pareceres jurídicos podem variara segundo o tempo, o lugar, as realidades e as condições das pessoas.

A fim de melhor entender essa última característica apresentada pelo Salih ibn ‘Abd Al ‘Aziz Al-Sheikh, busco aporte na palestra do Prof. Tariq RamaDan sobre “ser fiel”: apesar de haver coisas que precisam ser adequadas ao tempo e ao lugar, há coisas no Islam que são cristalizadas e que não podem mudar, como os pilares da fé, por exemplo, que não mudam e acrescentar algo ou tirar algo seria bidah (inovação), o que é sempre errado), ou os pilares do Islam.
Portanto, irmãs, seguir o caminho da moderação e ser fiel significa conhecer a essência e as obrigações da religião, como nos foi revelada no Quran e nos Hadeeths (ditos) e Sunnah. Trocar isso, seja tirando algo, em nome da facilidade, ou acrescentando, em nome do extremismo, é ser kâfur. O prof. Tariq Ramadan explica que ser kâfur não é ser incrédulo (ele também fala sobre a necessidade de sermos cautelosos com o uso de algumas terminologias em árabe, já que o idioma é muito vasto e as traduções podem ser reducionistas). Kâfur, como explica o professor, é negar, seja negar a Deus ou mesmo aceitar a Deus ou negar parte das obrigações em nome da facilidade. Há, portanto, segundo ele, nível de kâfur.

Ainda sobre a relação ser fiel, seguir os caminhos da moderação e aplicar ao cotidiano os ensinamentos do Corão, buscamos alicerce nas palavras do prof. Tariq Ramadan. Ele diz que ser fiel alcança não apenas o fato de se ter um texto revelado, mas também alcança o fato de que o que vem extraído do texto tem objetivos. O professor enfatiza que "às vezes devemos dizer 'nós ouvimos e obedecemos', mas também o texto pode dizer 'leia e entenda'".

Para finalizar, irmãs, uma vez expostas as características da moderação, é importante se ter em mente que o conhecimento é a luz de tudo no Islam.

Peço que se o texto tenha deixado qualquer margem de dúvida ou ambiguidade, que as irmãs me contatem para que possamos juntas melhorar.

Salaam walaykum e até sexta com mais uma Sunnah, se Deus quiser.

Salaam walaykum.



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Foi narrado por Narrated Abu Huraira:
Eu ouvi o apostolo de Deus dizendo “As boas ações de ninguém o levarão ao paraíso” (exemplo, ninguém poderá entrar no paraíso a partir das suas boas ações). Eles (os companheiros do profeta) disseram: “nem mesmo você, oh apóstolo de Deus?” ele disse: “Nem mesmo eu, a menos que Allah conceda sua graça e misericórdia sobre mim”. Portanto, seja moderado nos seus atos religiosos e cumpra com os atos que estão dentro da sua capacidade: e nenhum de vocês deve desejar a morte, se ele for um bom praticante, ele deve aumentar suas boas ações, e se ele for um mal praticante, ele deve voltar-se arrependido para Allah
[Sahih Bukhari. Volume 7, Book 70, Number 577]

2 comentários:

  1. Salaam Walaykum, maninha!
    Estou começando agora no Islã e tenho muitas dúvidas...mas algumas me deixam realmente preocupada...pode me ajudar?
    É o seguinte: tenho um enteado que não mora comigo e meu marido e tem decidido pela justiça que nas férias e feriados como natal, ano novo e afins deve passar com o pai. Então, se ao simplesmente aceitar tais feriados é pecado, como meu marido deve proceder? Entenda, se ele não passar tais datas que o juiz colocou, ele pode arranjar complicações e então, como proceder?
    Outra dúvida latente: por lei a empresa onde meu marido trabalha, assim como as demais, libera os funcionários nos tais "feriados"...e meu marido assim como os outros não podem ou tem como recusar...então...ele estará cometendo pecado ao ficar de folga nos tais dias?
    Muito obrigada pela ajuda...desde já...
    Fique com Allah e que Sua proteção!

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    1. Salaam walaykum, irmã!
      Não posso dizer se é pecado ou não, mas partindo do princípio que o Islam nos ensina a cumprir as regras (e a legislação é uma regra), não devemos nem podemos passar por cima dela. Se esses são os dias estipulados para que seu marido encontre com os filhos, handoulIllah!
      É preciso ter em mente, porém, que não devemos passar por cima das regras islâmicas e compartilhar das celebrações, natalinas, por exemplo, ou de páscoa, ou qualquer outra festividade cristã ou judaica, ou seja o que for. O problema não está em estar com o filho no natal, mas celebrá-lo.
      Quanto à empresa, não podemos ir trabalhar quando a empresa está de recesso, o mais prudente é que possamos aproveitar esse tempo extra da melhor forma possível louvando a Deus, o Altíssimo.

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